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Mãe África
 

 

Mulher Negra, Dignidade e Identidade

 
1 - Mulher negra e comunidade-terreiro
 

À cultura pertencem a religião, sua hieraquia e padrões. O sagrado é sempre um refúgio universal. É a força de criação da realidade, já que é o sagrado que resiste quando o corpo treme, que não agride quando o corpo se revolta. É o sagrado que permite ao ser humano criar. Mãe Stella representa uma cultura milenar, proveniente do continente africano, onde a Arte é inseparável da vida por sua associação com o sagrado. Os mitos da criação contam que um criador criou as pessoas e depois colocou alma nelas-!

A mulher negra de religião tradicional propõe o mundo através do conjunto de elementos que compõem o papel mulher, assumido, no entanto, sem indefinições, mas sim como o de uma mulher que vive este papel segundo as possibilidades/oportunidades que lhe são acessíveis ao nível do consumo.

Segundo os mitos da tradição afro-descendente, já que o mito é o discurso em que se fundamentam todas as justificativas da ordem e da contra-ordem social negra, a luta pela supremacia entre os sexos é constante, simbolizada na igbá-du (cabaça da criação), já que o orixá Odudua, princípio feminino de onde tudo se cria - representação coletiva das Iyá-mi ou mães ancestrais, é a metade inferior da cabaça e Obatalá ou Oxalá, princípio masculino, a metade superior.

A imagem humana é uma peça de arte feita por Oxalá manifestando a capacidade de criar, transformando o mundo( Ilê Aiyê) no que é hoje. A força da mulher vai aparecer e sobressair pelo princípio do equilíbrio de forças e pelo respeito aos papéis que desempenha, sendo portadora de muito AXÉ - força de vida- viabilizando sua expansão e preservação através dos rituais.

Em seu livro Mãe Stella trata de resistência cultural e religiosa ao situar a trajetória histórica do terreiro, ressaltando a importância das ialorixás que a antecederam, dos rituais de iniciação e dos procedimentos no terreiro segundo a tradição, além de contar sua própria história, frisando, no entanto, que tradição e progresso andam juntos. Situa que se podem fazer inovações sem ferir os princípios fundamentais da comunidade, sendo apenas indispensável manter uma fé inabalável e sólida nos orixás e não desrespeitar a hierarquia.

Mãe Stella ingressou no candomblé pelas mãos da tia Arcanja Soares de Azevedo, sendo que suas ligações com o terreiro tem raízes muito mais profundas, já que tal conhecimento veio sendo transmitido desde sua bisavô africana, que passou para sua avó Maria de Koni Bagbé.

Quando assumiu o Ilê Axé Opó Afonjá (Casa onde Xangô é o Senhor) sucedendo Mãe Ondina, foi a mais jovem ialorixá da Bahia. No entanto, a ascensão de Mãe Stella marca um fato ainda mais importante, qual seja, a continuidade da tradição do matriarcado no Opó Afonjá. Além de comandar as tarefas religiosas da comunidade-terreiro, onde vivem mais de cinqüenta famílias, Mãe Stella implantou também alguns projetos sócio-culturais. Um deles é a Escola Eugenia Anna dos Santos (Iyá Oba Biyi) - fundadora do Axé Opó Afonjá em 1910. A escola, além de ministrar aulas de primeiro grau para cerca de quinhentas crianças, oferece aulas de dança, percussão e artes cênicas, tendo sido criada em 1977, quando começou a funcionar com base num convênio entre o Axé Opô Afonjá, a SECNEB - Sociedade de Estudos da Cultura Negra no Brasil- coordenada por Juana Elbein dos Santos e criada por Mestre Didi, Assobá, membro, na época, do Conselho Religioso do terreiro e a Prefeitura da Cidade de Salvador .

Existem ainda dentro da comunidade - terreiro uma área verde, onde há criação de animais e hortas, além de várias atividades que geram emprego e renda, como as oficinas de ferreiro, fábrica de bonecas . aulas de bordado e um museu, criado por Mãe Stella após uma viagem à Nigéria: o Ilê Ohun Lailai (Casa das Coisas Antigas).

 

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Mulher negra e comunidade-terreiro
O papel mulher na tradição afro-descendente
Mulheres negras e mães ancestrais
O papel mulher na tradição judaico-cristã
Conclusão
Referências Bibliográficas