À cultura pertencem
a religião, sua hieraquia e padrões. O sagrado é sempre um refúgio
universal. É a força de criação da realidade, já que é o sagrado
que resiste quando o corpo treme, que não agride quando o corpo
se revolta. É o sagrado que permite ao ser humano criar. Mãe Stella
representa uma cultura milenar, proveniente do continente africano,
onde a Arte é inseparável da vida por sua associação com o sagrado.
Os mitos da criação contam que um criador criou as pessoas e
depois colocou alma nelas-!
A mulher negra
de religião tradicional propõe o mundo através do conjunto de elementos
que compõem o papel mulher, assumido, no entanto, sem indefinições,
mas sim como o de uma mulher que vive este papel segundo as possibilidades/oportunidades
que lhe são acessíveis ao nível do consumo.
Segundo os mitos
da tradição afro-descendente, já que o mito é o discurso em que
se fundamentam todas as justificativas da ordem e da contra-ordem
social negra, a luta pela supremacia entre os sexos é constante,
simbolizada na igbá-du (cabaça da criação), já que o orixá
Odudua, princípio feminino de onde tudo se cria - representação
coletiva das Iyá-mi ou mães ancestrais, é a metade inferior
da cabaça e Obatalá ou Oxalá, princípio masculino,
a metade superior.
A imagem humana
é uma peça de arte feita por Oxalá manifestando a capacidade de
criar, transformando o mundo( Ilê Aiyê) no que é hoje. A força da
mulher vai aparecer e sobressair pelo princípio do equilíbrio de
forças e pelo respeito aos papéis que desempenha, sendo portadora
de muito AXÉ - força de vida- viabilizando sua expansão e
preservação através dos rituais.
Em seu livro
Mãe Stella trata de resistência cultural e religiosa ao situar a
trajetória histórica do terreiro, ressaltando a importância das
ialorixás que a antecederam, dos rituais de iniciação e dos procedimentos
no terreiro segundo a tradição, além de contar sua própria história,
frisando, no entanto, que tradição e progresso andam juntos. Situa
que se podem fazer inovações sem ferir os princípios fundamentais
da comunidade, sendo apenas indispensável manter uma fé inabalável
e sólida nos orixás e não desrespeitar a hierarquia.
Mãe Stella ingressou
no candomblé pelas mãos da tia Arcanja Soares de Azevedo, sendo
que suas ligações com o terreiro tem raízes muito mais profundas,
já que tal conhecimento veio sendo transmitido desde sua bisavô
africana, que passou para sua avó Maria de Koni Bagbé.
Quando assumiu
o Ilê Axé Opó Afonjá (Casa onde Xangô é o Senhor) sucedendo
Mãe Ondina, foi a mais jovem ialorixá da Bahia. No entanto, a ascensão
de Mãe Stella marca um fato ainda mais importante, qual seja, a
continuidade da tradição do matriarcado no Opó Afonjá. Além de comandar
as tarefas religiosas da comunidade-terreiro, onde vivem mais de
cinqüenta famílias, Mãe Stella implantou também alguns projetos
sócio-culturais. Um deles é a Escola Eugenia Anna dos Santos
(Iyá Oba Biyi) - fundadora do Axé Opó Afonjá em 1910. A escola,
além de ministrar aulas de primeiro grau para cerca de quinhentas
crianças, oferece aulas de dança, percussão e artes cênicas, tendo
sido criada em 1977, quando começou a funcionar com base num convênio
entre o Axé Opô Afonjá, a SECNEB - Sociedade de Estudos da
Cultura Negra no Brasil- coordenada por Juana Elbein dos Santos
e criada por Mestre Didi, Assobá, membro, na época, do Conselho
Religioso do terreiro e a Prefeitura da Cidade de Salvador
.
Existem ainda
dentro da comunidade - terreiro uma área verde, onde há criação
de animais e hortas, além de várias atividades que geram emprego
e renda, como as oficinas de ferreiro, fábrica de bonecas . aulas
de bordado e um museu, criado por Mãe Stella após uma viagem à Nigéria:
o Ilê Ohun Lailai (Casa das Coisas Antigas).
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