A História
Africana
Dada
a povoação inicial do continente americano por povos e nações
indígenas, seguida da colonização invasora européia e acompanhada
pelas imigrações forçadas de cativos africanos, a historia brasileira
posterior a 1500 é dependente de uma tríplice herança étnica.
A presença destas três etnias forja a cultura e história nacional
como receptoras destas experiências históricas passadas destes
povos. No presente, os processos de educação e transmissão da
cultura nacional deveriam estar assentados nos conhecimentos da
historia indígena, africana e européia. No entanto os processos
coloniais e imperialistas europeus criaram sistemas de dominações
e as visões sobre cultura e educação nacional foram submetidos
às regras ideológicas do eurocentrismo. No que se refere aos Afrodescendentes,
este sistema de dominação parte da característica particular do
nosso quadro de lutas de classes sociais, produzindo uma estrutura
de etnocontroles excludentes.
São
eliminadas do conhecimento considerado civilizado, ou seja, como
parte da cultura civilizada, as informações africanas, reduzindo
o africano a um estereótipo de selvagem e primitivo. Fabricam-se
as origens da população Afrodescendente, conhecida como negra
e mestiça, referidas aos navios denominados de negreiros e nas
supostas tribos de homens nus. Esse processo de exclusão da História
Africana da cultura nacional faz parte das políticas de desigualdades
de classes produzidas pelo escravismo e pelo capitalismo racista.
A educação e a formação dos educadores são realizadas sem as informações
da base africana. As percepções sobre o passado africano são desinformadas
e racistas, associadas às noções de raça, tanto no cotidiano da
sociedade como na educação, produzindo um processo de representações
desfavoráveis à percepção igualitária e cidadã dos afrodescendentes.
A
partir dos anos 70, os movimentos negros se rearticulam na sociedade
brasileira, agregando novos interesses nas suas formas de atuação.
Estes movimentos passam a valorizar significativamente as questões
educacionais dos afrodescendentes (Silva, 98) (Cunha Jr., 92)
e criam um ambiente favorável à discussão da cultura nacional
e das origens do povo brasileiro. Começa a ser inserida nas agendas
programáticas destes movimentos a questão do ensino da Historia
Africana e da denominada Historia do Negro Brasileiro. Simultaneamente
com a ampliação dos movimentos negros ocorre o crescimento dos
movimentos sociais. O crescimento deste movimentos contribuíram
para alterar o regime político vigente e se articulam na luta
pela democratização da sociedade e da educação. Das relações entre
esses movimentos sociais surgem inquietações conjuntas como as
da formação dos educadores voltada para as classes proletárias,
resultando daí interesses sobre a historia do escravismo e dos
trabalhadores negros.
Neste
conjunto, nascem as preocupações com a inclusão da Historia Africana
na formação dos educadores. Embora a resistência quanto ao trabalho
com as questões de interesse dos afrodescendentes persista, tanto
em alguns setores políticos de esquerda como de direita, os movimentos
negros lograram transformar as preocupações com o ensino da historia
africana numa questão nacional. Persiste, entretanto, as questões
de operacionalização do ensino desta historia e os limites da
percepções democráticas que se confrontam com as políticas nacionais
e de grupos sociais quanto a formação de educadores.
A
partir de 1989, dentro, inicialmente, das atividades da ABREVIDA,
entidade do movimento negro da cidade de São Paulo, e depois em
círculos mais amplos ligados a Sindicatos Estaduais e Nacional
de Educação, passamos a apresentar a disciplina de Historia Africana
para formação de professores da rede pública. A experiência tem
também a adesão de programas de pós-graduação em Penambuco e no
Piauí. Os programas de maior intensidade foram realizados dentro
de convênios entre a Prefeitura da Cidade de São Paulo e a ABREVIDA
e cursos de formação de Educadores sobre Relações Étnicas e Cidadania.